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A morte de um poeta – conhecimento e humanismo |
Convido o eventual leitor a ouvir a gravação anexa [link abaixo], com uma declamação feita por meu amigo barbeiro a vida toda e advogado. O seu Chico, foi um presente que recebi nesta cidade, não conhecia ninguém e entrei na barbearia e outro barbeiro e regente musical, apresentou o seu Chico Barbeiro. Que presente eu recebi, amante em primeiro lugar de Francisco Alves, o cantor das multidões, falecido em acidente de automóvel na rodovia Dutra. O segundo amor foi a obra do poeta baiano Castro Alves, que Francisco Perez conhecia de cabo a rabo e mais, a parte mais expressiva e combativa do poeta ele memorizou e em decorrência disso, passou a visitar escolas se oferecendo no dia da poesia, para falar sobre a vida do poeta e declamar versos entre os quais Navio Negreiro e América. Ouvi todos os discos de Francisco Alves que me emprestou, assim como livros do poeta descalvadense Flavio Talarico a quem me recomendou, emprestou e apresentou. Tinha especial predileção pelo poema o burro Sossego, uma narrativa de memória urbana com elementos |
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originários da vida rural, sobre a vida de um carroceiro negro que viveu na cidade como um precoce ambientalista, coletando resíduos na cidade. Um outro aspecto que me chamou atenção e pode servir de exemplo a todos aqueles que encontraram dificuldades, foi ele voltar para a escola com mais de trinta anos, concluir seus estudos, prestar vestibular, fazer a faculdade de Direito e depois OAB e a advocacia. Muitos jovens sonham em realizar o curso de direito, sem realizar nenhuma leitura, o que evidencia seu completo despreparo para lidar com os propósitos da justiça. Convidado por ele fui conhecer a Fazenda Bela Vista, que havia organizado uma deliciosa cozinha com culinária caipira, que atendia aos finais de semana, onde almoçamos mais de uma vez. Nessa fazenda seu Chico nasceu, guardava em uma gaveta da barbearia uma fotografia das casas da vila dos moradores, imigrantes como seus pais. Pude conhecer a senzala desta fazenda e outros equipamentos usados no trabalho escravo do período, ainda não consegui checar uma informação sobre a cidade ter sido a maior cidade em escravos do estado de São Paulo. Conheci cachoeiras, conheci o restaurante de peixes na beira do rio Mogi e com deliciosas modas de viola muito bem tocadas e a curiosa presença de um periquito solto que caminha sobre as mesas, um lugar inesquecível. Uma cidade potencialmente ecológica que desperdiça sua natureza com estímulos ao consumo e pouco a vida saudável. Passei horas e domingos, na barbearia ouvindo-o declamar poesia para mim e alguns amigos que vieram visitar a cidade e os levei a barbearia para ouvirem o Chico declamar. Tinha muita atenção as novidades, muito respeito pelos poetas e músicos e mais ainda aos que se dedicavam a poesia. Centenas de crianças hoje adultas, muitos pais, ouviram seu barbeiro declamar, um estupendo exercício de memória que a juventude sequer experimentou, viciados que são com sua muleta chamada celular. A barbearia que deveria ser tombada pelo patrimônio imaterial da cidade e da cultura popular, se tornando uma biblioteca especialmente direcionada aos amantes da poesia de qualquer origem, idioma e opção política. Ao amigo de ternuras delicadas essas lembranças que podem ser anotadas nas palavras do poeta Carlos Drumond de Andrade: Se procurar bem você acaba encontrando. Não a explicação (duvidosa) da vida, mas a poesia (inexplicável) da vida. Para ouvir e guardar: https://www.youtube.com/watch?v=Td39HNnswpU
*Texto gentilmente escrito e enviado ao DESCALVADO
NEWS por Rubens Aparecido dos Santos, |
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