O que mais o importava não eram os adereços superficiais da
figura física, mas os valores da sua personalidade.
Se não foi um
franciscano por sua conduta, jamais se ajustou à imagem do avaro
publicano, do repelente sibarita ou do insensível ateu.
Enfrentou com
galhardia os tropeços naturais da vida como Prefeito, depois de
três anos de trabalho, evidentemente com erros e acertos tão
próprios das pessoas humanas.
É certo que se
dispôs no Executivo descalvadense tangido pelo ideal de bem
servir a coletividade.
No meio dos
embates, tantas vezes ásperos e ingratos, morreram muitos sonhos
enquanto outros se realizaram.
É praticamente
impossível agradar a todos, tão variadas são as postulações, tão
complexos os interesses coletivos e tão opostos e conflitantes
os argumentos, aos quais se aliam, como barreiras invencíveis ou
confusas, o choque de ideias, as emoções de lícitos interesses,
todos respeitáveis, mas que diluem e frustram esperanças
acalentadas.
O escritor
Osvaldo Orico em um de seus livros cita a frase do francês Bazin:
“A vida não foi feita para viver, mas
para ser vencida”.
Henrique não
passou obscuramente entre os seus concidadãos
– venceu a vida, lutando com lealdade e honestidade e
deixando frutos de um trabalho digno e valoroso. Soube amar e
perdoar.
E, quando se foi
desta vida, aqui deixou a prova do seu profundo amor por
Descalvado e por seu povo.
Não criticou
malevolamente as obras boas de outrem nem se rendeu ao dinheiro,
ao ódio, ao desrespeito.
Não são os
privilégios da riqueza que fazem o mérito das criaturas humanas,
mas tão somente a grandeza da alma, a grande ditadora a impor
diretrizes ao comportamento de cada um.
O povo se
apercebeu disso tanto que, ao seu desenlace, chorou, ouviu
instrumentos musicais e aplaudiu.
Chorou, porque
as lágrimas são as mais nobres expressões de afeto com que Deus
premiou a criatura humana.
Ouviu
instrumentos musicais porque a música, na melodia dos sons e na
cadência dos versos, é a manifestação mais sublime da voz e do
coração.
Aplaudiu, porque
as palmas significam a força viva e ressonante da alma,
reconhecida, por gestos, bens e atos agradáveis aos nossos
desejos e intensões.
Descanse,
Henrique Fernando do Nascimento, na serena paz do seu torrão
natal.
Sílvio Bellini
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